Eu os esperava para o chá da tarde. De convite desprovia, já que as princesas e duques já daquele costume nutriam por anos. Eu era o rei, pacifico e impiedoso, suspeito em poucas palavras e manipulador sem nenhuma. Adoçava com cianureto a essência da camomila, observando, com um sorriso imperceptível e aprovador meus convidados adormecerem. Eu era assim. Tão indiferente quanto cruel. Tão destruidor quanto sádico. E resumi-me era algo fácil, porém insolente. Tanto eu gostava de envenenar aos outros com minha persuasão, que, vejam, não era preciso um dedo mover para destruir palácios, castelos ou montanhas. Era necessário uma oferenda aos fracos, uma oferenda maior aos fortes, e um mero sorriso aos impossíveis, afinal, eles dali assinavam uma sentença irreversível.
Assim eu era, em meu trono observando as labaredas e cantarolando com elas. E todos conheciam minha culpa, nos olhares eu via isto. Eles gostariam de consertar seu rei como os pais consertam um filho, e em troca, eu os matava. Eu os negava. Não, isto era no fim, pois no inicio eu os guiava por um trilho preenchido de imperceptíveis más intenções, de irrevogáveis mentiras dos quais os mais espertos descobriam. E, bem, nelas acreditavam. E então no fim deste trilho, escuro e cavernoso, havia a decepção. Eu os enganara. E continuaria enganando.
Naquela terra, com uns eu ainda nutria de certa piedade - o que de mim originava-se um disparate, mas minha piedade valia a um vintém da qual, em poucos instantes, eu retiraria. Minha bondade repentina era como o trilho, no fim haveria a decepção, e meu ódio era dilacerante, assustador, resumido num único olhar, sem muitas palavras senão a ordem singular. E, ora, quais dos meus súditos ousaria me contrariar? Havia os que tentavam com teorias arguciosas, no tom pomposo, na malícia invejosa ao ver minha falsa oscilação, mas, ora, tanta inteligência cegava o tão simples paradoxo. Havia, também, os súditos que me contrariavam. Destes, o que eu podia fazer senão dilacerar? Não com meu brilhante punhal, mas com minhas ácidas palavras. Eu conhecia cada um e seus segredos, tão estampados quanto ocultos, cada um e suas fraquezas, e delas explorava e degustava sem demonstrar conhecê-las, apenas fingindo a irônica coincidência que fazia, de supetão, a reverência surgi-lhes.
Um rei com a brilhante coroa e as farfalhantes vestes brancas, o sorriso de um anjo, o âmago de um demônio, em meu trono repousava. Aquele era meu mundo e aqueles eram meus subordinados, tão tolos ao ponto de não terem a consciência disto. Eu era astuto e silencioso. Irrevogável, inviolável, esdrúxulo, sádico, mas acima de tudo, inconsertável.
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Um comentário:
húúú, que rei mais gato e sensual seduction, comia totalmente.
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