Sobre chuvas e liberdade

Madrugada chuvosa. Havia mais naquele som místico da chuva encontrando o asfalto do que podia se ver ou compreender. Havia o nostálgico e tão próximo aroma de terra molhada, que com os olhos cerrados, podíamos sentir a tranqüilidade nos preencher. Estávamos ali, sem censura, apegados a algo tão inerente e simples que apenas com delicadeza podia-se compreender o que trazia. Havia, tão mais, o vento frio encontrando-nos a pele, trazendo-nos a sensação de espaço e ar puro. Refrescante hálito da noite, toque leve e sussurro delicado da chuva. Caminhar pelo asfalto úmido na madrugada ruidosa da chuva. Sentir-se naquela escuridão tranqüilizante e frígida, abraçado pela noite e pelo frio. Correr, caminhar, abrir os braços a uma liberdade silenciosa e de tão grandiosa quase furtada e repentina. Liberdade inventada, é claro. Liberdade dentre sons e texturas na calada da noite. Respirar com prazer a nostalgia de um passado inexistente. Raios e trovões eram o arfar da vida luminosa daquela alvorada. Oh, sim, certamente havia mais naquele místico som da chuva do que podia se ver ou compreender. Havia apenas o incompreensível e ele era o bastante. Ele era o necessário. Havia tão mais que tudo ou nada. A mera chuva - a vulgar chuva ou a indiferente chuva – ou, aqueles, a magia transcendente na calada da manhã. Um mero momento em que tudo se esvaía e sobravam apenas os sons, as texturas, o frio. A chuva, a madrugada, os aromas.  A liberdade inventada.

4 comentários:

Gui Spiralling disse...

Maravilhoso.
Nem sei o que comentar sobre algo desse tipo, ops, isso aqui já é um comentário.

Maíra F. disse...

Cara... vou dizer que eu acho que esse foi um dos textos seus que eu mais gostei na vida. Primeiro pq ele descreve perfeitamente o meu amor pela chuva (e pela liberdade que ela inexplicavelmente transmite). Segundo porque ele é leve, delicado, mas - ao mesmo tempo - intenso. E sei lá. Me senti na chuva enquanto lia, hahaha. Muito, muito bom! :)

Alexandre disse...

Esse foi o melhor texto seu que eu já li.

Natie disse...

Esse foi o melhor texto seu que já li [2]
Estou estupefata até agora, abismada, abobalhada, fascinada.
Parabéns!

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